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A MULHER EM PROUST
Uma mulher e o mar. Visão e tragédia de Albertine Ensaio minúsculo sobre as cinco cenas figurativas em que a mulher adquira figura literária trágica como objeto do desejo na arte romanesca de Marcel Proust.
Cena 1: Cena do primeiro contato no balneário de Balbec - a multiplicidade pictórica de Albertine convertendo-se em uma multiplicidade plástica. A visão de Albertine antes e depois do primeiro contato se altera muito mais do que um simples efeito do ângulo de enfoque do observador, desembocando em um tumulto de contradições objetivas e imanentes sobre as quais o sujeito (narrador proustiano) carece de controle. O narrador vê Albertine pela primeira vez incorporada ao brilho do pequeno bando de moças em bicicletas contrastadas pelo mar. Grupo pictórico este que, em sua adoração invejosa, o narrador simbolizará nas Bacantes. Albertine lhe parece carecer de individualidade e, nessa imaginação pictórica, está como envolta em um casulo: “uma crisálida delicada e quase abstrata” em tal modo que “só o mistério do bando orgiástico de Bacantes” envolvendo-a num “cerco de rosas que rompe as linhas das ondas” é a única imagem válida e que permanecerá nas referências posteriores do narrador.
Cena 2: Em outro dia ela o fita na praia. Frase desse relato retrospectivo escrita pelo narrador então já fascinado pelo desejo de possuí-la e pressentindo a impossibilidade desse sentimento: “soube que não possuiria a jovem ciclista se não conseguisse possuir o que havia em seus olhos” - ele ainda não consegue vê-la dissociada do mistério das bacantes em bicicleta.
Cena 3: O contato com ela lhe é proporcionado pelo pintor Elstir que lha apresenta, e ele “começa a conhecê-la através de uma série de subterfúgios” em que cada fragmento de sua fantasia e seu desejo é substituído por um conceito bastante menos preciso. Criar-se-á então a Albertine da multiplicidade plástica, cujas expressões são equiparáveis a um caleidoscópio. Empenha-se em observá-la em todas as oportunidades. Observa-a nas relações dela com Mme. Bontemps; nas primeiras ambigüidades entre ele e ela; no reflexo de um luar em seu queixo; na maneira em que emprega o advérbio ‘perfeitamente’ no lugar de ‘inteiramente’; na inflamação no canto de seu olho interferindo nas suas feições e, dessas observações, encontra a aparência dela como a passar da superfície mansa e polida a “um estado quase fluido de alegria translúcida, uma congestão febril”. Quando ousou seu primeiro gesto impreciso de aproximação é repelido com frieza, levando-o a concluir que, em modo contrário à sua fantasiosa hipótese inicial de ser ela a possível amante de um corredor ciclista ou de um campeão de box, Albertine era honesta e fora falsa sua apreciação sobre o caráter dela.
Cena 4: Todavia essa impressão cambiará. A tragédia de Albertine se complica alterando o estado do narrador nas relações entre ele e ela em Paris, marcado por certa perplexidade em face da própria incapacidade dele para encontrar um denominador comum interligando a nova Albertine ou a nova multiplicidade dessa nova Albertine agora tomada em seus braços. A configuração poética já não tem apenas uma base visual, fosse pictórica ou plástica. O objeto do desejo que ela parece simbolizar, a mulher e o mar, acentuando no plano espiritual o prazer desfrutado dos favores dela, sofisticada, para ele já iniciada, esse objeto ou esse composto, através do hábito dela, leva a formar um segundo composto, desta vez com os ciúmes. De fato, a simbolização de Balbec e seu mar através do hábito de Albertine vem a ser restituída como amálgama do humano e do marinho em um estímulo do coração exatamente através dos ciúmes. A visão de Albertine espantando o narrador e escapando a toda a composição de unidade mostra não só a Albertine de sua imaginação, a apaixonada e irreal da praia; a Albertine real e virginal aparentemente, revelada a ele no final de sua estadia em Balbec; Mas também lhe mostra esta terceira Albertine que, no dizer de Beckett, “cumpre a promessa da primeira na realidade da segunda”.
Cena 5: Mas essa nova Albertine é múltipla e o narrador vê claramente a dificuldade em viver com ela, melhor: vê a ameaça aos seus sentimentos. Tanto que, depois de sua primeira visita à Princesa de Guermantes, quando sentado em seu quarto esperando-a que não chega, sente como esta “não chegada” exalta uma simples irritação física convertendo-se em chama de angústia espiritual. Muito mais que o ouvido ou a mente, o narrador é todo o coração ao atentar para os passos dela ou para a chamada sublime do telefone. Destaca-se ainda a necessidade, a carência com que o narrador relacionou o consolo outrora obtido pelo carinho de sua mãe à esperada chegada de Albertine, causando-lhe ademais uma inquietação suplementar a consciência de haver visto nesta Albertine comum “uma fonte de consolo e salvação que milagre algum poderia substituir”. Tal a impressão da impossibilidade em possuir o outro que então o narrador formula na seguinte frase: “só se ama aquilo que não se possui, só se ama aquilo no qual se busca o inacessível”. Será a este e a outros semelhantes pensamentos do narrador que, como veremos, Beckett se refere ao afirmar que... Em Proust, o amor é uma função da tristeza, comportando o sentimento de que nessa matéria não há escolha ruim, posto que o fato mesmo de que tenha havido uma escolha implica que tenha sido ruim!
Uma mulher e o mar. Visão e tragédia de Albertine Ensaio minúsculo sobre as cinco cenas figurativas em que a mulher adquira figura literária trágica como objeto do desejo na arte romanesca de Marcel Proust.
Cena 1: Cena do primeiro contato no balneário de Balbec - a multiplicidade pictórica de Albertine convertendo-se em uma multiplicidade plástica. A visão de Albertine antes e depois do primeiro contato se altera muito mais do que um simples efeito do ângulo de enfoque do observador, desembocando em um tumulto de contradições objetivas e imanentes sobre as quais o sujeito (narrador proustiano) carece de controle. O narrador vê Albertine pela primeira vez incorporada ao brilho do pequeno bando de moças em bicicletas contrastadas pelo mar. Grupo pictórico este que, em sua adoração invejosa, o narrador simbolizará nas Bacantes. Albertine lhe parece carecer de individualidade e, nessa imaginação pictórica, está como envolta em um casulo: “uma crisálida delicada e quase abstrata” em tal modo que “só o mistério do bando orgiástico de Bacantes” envolvendo-a num “cerco de rosas que rompe as linhas das ondas” é a única imagem válida e que permanecerá nas referências posteriores do narrador.
Cena 2: Em outro dia ela o fita na praia. Frase desse relato retrospectivo escrita pelo narrador então já fascinado pelo desejo de possuí-la e pressentindo a impossibilidade desse sentimento: “soube que não possuiria a jovem ciclista se não conseguisse possuir o que havia em seus olhos” - ele ainda não consegue vê-la dissociada do mistério das bacantes em bicicleta.
Cena 3: O contato com ela lhe é proporcionado pelo pintor Elstir que lha apresenta, e ele “começa a conhecê-la através de uma série de subterfúgios” em que cada fragmento de sua fantasia e seu desejo é substituído por um conceito bastante menos preciso. Criar-se-á então a Albertine da multiplicidade plástica, cujas expressões são equiparáveis a um caleidoscópio. Empenha-se em observá-la em todas as oportunidades. Observa-a nas relações dela com Mme. Bontemps; nas primeiras ambigüidades entre ele e ela; no reflexo de um luar em seu queixo; na maneira em que emprega o advérbio ‘perfeitamente’ no lugar de ‘inteiramente’; na inflamação no canto de seu olho interferindo nas suas feições e, dessas observações, encontra a aparência dela como a passar da superfície mansa e polida a “um estado quase fluido de alegria translúcida, uma congestão febril”. Quando ousou seu primeiro gesto impreciso de aproximação é repelido com frieza, levando-o a concluir que, em modo contrário à sua fantasiosa hipótese inicial de ser ela a possível amante de um corredor ciclista ou de um campeão de box, Albertine era honesta e fora falsa sua apreciação sobre o caráter dela.
Cena 4: Todavia essa impressão cambiará. A tragédia de Albertine se complica alterando o estado do narrador nas relações entre ele e ela em Paris, marcado por certa perplexidade em face da própria incapacidade dele para encontrar um denominador comum interligando a nova Albertine ou a nova multiplicidade dessa nova Albertine agora tomada em seus braços. A configuração poética já não tem apenas uma base visual, fosse pictórica ou plástica. O objeto do desejo que ela parece simbolizar, a mulher e o mar, acentuando no plano espiritual o prazer desfrutado dos favores dela, sofisticada, para ele já iniciada, esse objeto ou esse composto, através do hábito dela, leva a formar um segundo composto, desta vez com os ciúmes. De fato, a simbolização de Balbec e seu mar através do hábito de Albertine vem a ser restituída como amálgama do humano e do marinho em um estímulo do coração exatamente através dos ciúmes. A visão de Albertine espantando o narrador e escapando a toda a composição de unidade mostra não só a Albertine de sua imaginação, a apaixonada e irreal da praia; a Albertine real e virginal aparentemente, revelada a ele no final de sua estadia em Balbec; Mas também lhe mostra esta terceira Albertine que, no dizer de Beckett, “cumpre a promessa da primeira na realidade da segunda”.
Cena 5: Mas essa nova Albertine é múltipla e o narrador vê claramente a dificuldade em viver com ela, melhor: vê a ameaça aos seus sentimentos. Tanto que, depois de sua primeira visita à Princesa de Guermantes, quando sentado em seu quarto esperando-a que não chega, sente como esta “não chegada” exalta uma simples irritação física convertendo-se em chama de angústia espiritual. Muito mais que o ouvido ou a mente, o narrador é todo o coração ao atentar para os passos dela ou para a chamada sublime do telefone. Destaca-se ainda a necessidade, a carência com que o narrador relacionou o consolo outrora obtido pelo carinho de sua mãe à esperada chegada de Albertine, causando-lhe ademais uma inquietação suplementar a consciência de haver visto nesta Albertine comum “uma fonte de consolo e salvação que milagre algum poderia substituir”. Tal a impressão da impossibilidade em possuir o outro que então o narrador formula na seguinte frase: “só se ama aquilo que não se possui, só se ama aquilo no qual se busca o inacessível”. Será a este e a outros semelhantes pensamentos do narrador que, como veremos, Beckett se refere ao afirmar que... Em Proust, o amor é uma função da tristeza, comportando o sentimento de que nessa matéria não há escolha ruim, posto que o fato mesmo de que tenha havido uma escolha implica que tenha sido ruim!
EXTRATOS DE “A SOCIOLOGIA DO ROMANCE À LUZ DA COMUNICAÇÃO SOCIAL”
Fonte: Blog Comunicação e Democracia
link http://sociologia-jl.blogspot.com/2007/04/view-blog-top-tags.html
Leia mais:
Lumier, Jacob (J.): L’utopie Négative dans la Sociologie de la Littérature: Articles au Tour de Marcel Proust Redigés en Portugais (133 pages), Internet, E-book, PDF, 2007,
< http://www.lulu.com/content/846559 >
Sociologie de La Littérature - I : Lecture de Proust - Une Approche Inspirée par Samuel Beckett (Ensaio, 134 págs)
< http://www.lulu.com/content/1028643 >
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