quarta-feira, 28 de maio de 2008

SOCIOLOGIA, LITERATURA E FANTASIA: Os critérios do fato literário e as condições de uma sociologia da literatura.

O escritor é um fabulador: não diz a verdade e é sempre a verdade que ele diz... à sua maneira.

Sociologia, Literatura e Fantasia:

Os critérios do fato literário e as condições de uma sociologia da literatura.

Comentários de leituras porJacob (J.) Lumier

As dificuldades antepostas a uma sociologia da literatura ligam-se à orientação intelectual do chamado espírito burguês afirmando a independência total da cultura e da arte em relação às formas sociais, de tal sorte que a interpretação da arte não estaria contida na vida social. Daí surge o obstáculo da interdição pela sociedade.

O receio de um efeito literalmente ameaçador da ordem torna o fato literário negado na sua significação, combatido como pura fantasia. Distingue-se uma espécie de respeito ao fato literário envolvendo-o em certo mistério.

Desta atitude provêm duas representações desfavoráveis à sociologia da literatura, seguintes: (a) – uma, a chamada teoria do gênio, que interpreta a figura do autor em termos do inexplicável e inesperado no concerto das paixões e dos pensamentos humanos; (b) – outra, referida à elaboração da obra, é a teoria romântica da inspiração, do mistério da criação, etc. Além disso, o espírito burguês pode levar os escritores a não gostarem de se ver integrados pela sociologia [1].

Podem-se observar algumas tentativas de pesquisa que, não obstante o pensamento objetivo, pouco favoreceram a sociologia da literatura. Umas porque mantiveram a opacidade intocável do fato literário; outras porque acentuaram a sua redução. No primeiro caso, resume-se a tentativa mais conhecida que foi a de TAINE, incluindo os seus colaboradores. No segundo caso, nota-se a tentativa marxista e a psicanalítica.

Comenta-se que TAINE esperava fundamentar uma ciência positivista e determinista da literatura tomando como motivos de explicação (a) – a descoberta em cada escritor de uma faculdade mestra; (b) – a gênese dessa faculdade mestra a partir das suas três famosas condições: a raça, o meio e o momento. O dogmatismo de TAINE é flagrante na analogia com as ciências naturais. No prefácio de sua obra “La Fontaine et ses Fables”, o ponto de vista naturalista vem a ser aplicado ao homem, tomando-o como um animal de espécie superior que produz as filosofias e os poemas pouco mais ou menos como os bichos da seda tecem os seus casulos e as abelhas elaboram os favos [2].

Quanto aos seus continuadores, se repele o simplismo na aplicação do dogmatismo de TAINE, questionando-se, sobretudo a abordagem analítica redutiva na qual a obra literária, tida como mistério inefável e impenetrável, vem a ser reportada a um fator mais ou menos arbitrariamente escolhido.

Em relação à tentativa marxista, por sua vez, se lhe reconhece o mérito sociológico de empreender a inter-relação do espírito e das suas produções com os quadros sociais. O primeiro critério de análise marxista da obra literária é a fidelidade à realidade social. Nada obstante, a tentativa marxista de reduzir a literatura a um fato de conhecimento mediante a tipologia das visões de mundo atribuída a Georges Lukacs, é censurada por ameaçar a especificidade do fato literário. Ao traçar um método comum a todas as obras de pensamento tornou-se inevitável por conseqüência desprezar o que distingue precisamente o fato literário dos outros fatos [3] .

Censura idêntica se aplica à tentativa psicanalítica, em cuja abordagem necessariamente se tem de partir sempre de uma redução implicando uma negação da especificidade. Por contra, as condições de uma sociologia da literatura implicam a distinção entre fato literário e fato de conhecimento.

·
O problema das relações com a sociologia do conhecimento

Com efeito, já observamos que o fato literário é para uma sociedade um modo de ela tomar consciência de si própria. Daí advem o tabu que acentua exatamente a especificidade do fato literário e faz reconhecer no mesmo um fato de valor não confundível com as suas condições genéticas nem com as suas condições de sobrevivência, nem tampouco com as intenções do seu criador, nem enfim com as suas repercussões psicossociais.

Aquilo que há na obra literária pelo qual se chega à afirmação de que a literatura satisfaz certa necessidade cultural não utilitária, ou seja: o valor literário, é inicialmente o elemento que difere um livro de poemas ou um romance de um jornal. Sem dúvida, o qualificativo e o valor que ocorrem imediatamente aos leitores, pelo que eles identificam o fato literário, não é o mesmo para todos os públicos.

A identificação do fato literário seja como romance ou poema ou ensaio se define também socialmente e não apenas pelo método, sem que isto impeça tomar-se o valor literário como ponto de partida da pesquisa sociológica. Tanto é assim que, para Albert MEMMI, a tarefa específica dessa pesquisa é a sociologia do fato literário, que este autor qualifica como uma sociologia privilegiada diante do objeto impresso. No seu dizer, trata-se da sociologia do que é adequado ao fato literário, do que neste não coincide com outra coisa, não coincide com o escrito como mercadoria, como produto de transformação, etc.[4]

Na busca dessa adequação é que se aprofunda o problema das relações com a sociologia do conhecimento chegando-se aos seguintes resultados: (a) – se um fato literário pode nos ensinar certas coisas e se a literatura é por isso uma das técnicas de comunicação social, o sociólogo deve precaver-se, entretanto de que é sempre possível uma distorção dos fatos: as informações dadas pelos escritores não atendem à finalidade de uma enquête.

Quer dizer, (b) – embora possa admitir-se que o autor tenha a intenção de ensinar-nos certas coisas, as intenções do autor de obra literária são evasivas ou mudam de rumo no decurso da atividade. O que diz é quase tão importante quanto a forma de dizê-lo, forma esta que por sua vez influi sobre o conteúdo do discurso acabando por transformá-lo.

O escritor é um fabulador: não diz a verdade e é sempre a verdade que ele diz... à sua maneira. A distorção é sempre possível, seja em conseqüência de uma reconstrução imaginativa, por razões de forma ou simplesmente por ardil (ditado por razões sociais).

A finalidade de uma obra literária não é a mesma de um documento , nada obstante admite-se possível interpretar as informações dadas pelos escritores considerada a finalidade estética da obra literária, na qual não se trata de representar a realidade social - para o que os jornais da época seriam superiores a todos os romances do mesmo período.

·
A importância de Goethe ou de Shakespeare não provém de sua filosofia, mas de terem criado um objeto novo que é o objeto literário.

Desde o ponto de vista da finalidade literária e em face dos esforços de interpretação, o fato literário não pode ser reduzido a significações sociais nem a significações psicológicas para compreender, ajuizar e classificar as obras.

A significação considerada como atributo de uma visão de mundo mais ou menos coerente (uma weltanschaung) levaria a que os escritores surgiriam com espantosa insignificância ao lado dos pensadores: que seria um Rousseau ao lado de Kant? Gide comparado a Nietzsche? Por contra, as noções de objeto literário e eficácia estética levam a repensar em outro modo a significação aplicada ao fato literário: a importância de Goethe ou de Shakespeare não provem da sua filosofia, mas de terem criado um objeto novo que é o objeto literário.

Nesse objeto se encontram dotadas da máxima eficácia estética certo número de idéias (uma visão de mundo), mas também certo número de emoções. Se, favorecendo a especificidade do fato literário como configuração de valor, admitirmos que a eficácia está mais próxima da afetividade do que da idéia teríamos confirmada a constatação de que algumas idéias afetivamente muito significativas podem ser infinitamente mais eficazes do que uma weltanschaung.

Nesta perspectiva sobressai que a sociologia da literatura deve ser também uma sociologia da fantasia, de sorte que, ao se orientar para a apreensão do desejado em literatura, assume um ponto de vista interior ao fato literário, trazendo para o campo da sociologia as significações que a própria fantasia comporta ou elucida.

Antes de nos ensinar coisas, tais significações são aquelas de que nos ocupamos: a fantasia elucida de maneira tão indireta e tão variada que todos os achados, disfarces, fugas, subterfúgios estranhos devem ocupar-nos pelo menos tanto quanto podem ensinar-nos.

Albert Memmi sustenta que uma sociologie du voeu [5] implica e ultrapassa a noção de consciência possível aplicada na sociologia da literatura por Lucien Goldmann, entendida como noção que dá conta das aspirações tendenciais. Portanto, sendo um fato de valor, o objeto literário deve ser examinado como composto não somente de um elemento de significação, mas de jubilo, de relação com o criador, de relação com os leitores, etc.


Palavras chaves: fantasia / visão de mundo / fato de valor / eficácia estética /

/ objeto literário.

Categorias: Comunicação social / Sociologia / Literatura / Pesquisa / Conhecimento.

©2007 Jacob (J.) Lumier



[1] Ver o Artigo de Albert MEMMI intitulado “Problemas de Sociologia da Literatura”, publicado como colaboração no Tratado de Sociologia-Vol. 2, dirigido por Georges Gurvitch., Porto, Iniciativas editoriais 1968 (1ªedição em Francês: Paris, PUF,1960).

[2] Apud Albert Memmi, op.cit.

[3] Ibid. ibidem.

[4] Albert Memmi, op. cit.

[5] Voeu = aspiração como prece; desejo; engajamento como promessa ou juramento.


Este artigo é extraído do e-book de Jacob (J.) Lumier
“A SOCIOLOGIA DO ROMANCE À LUZ DA COMUNICAÇÃO SOCIAL”
***


Creative Commons License
Esta obra está bajo una licencia de Creative Commons.

sábado, 24 de maio de 2008

Sociologia do Romance



Estruturas Econômicas e Forma Romanesca

Por

Jacob (J.) Lumier

EPÍGRAFE

Na sociologia da forma romanesca, para saber como se faz a ligação entre as estruturas econômicas e as manifestações literárias em uma sociedade em que esta ligação tem lugar no exterior da consciência coletiva deve-se observar a ação convergente de quatro fatores diferentes.

A sociologia do romance mais diretamente voltada para a arte e literatura de avant-garde ultrapassa a tentativa tradicional de mostrar que a biografia e a crônica social constitutivas do romance em sua fase mais antiga refletiam mais ou menos a sociedade da época. Admite-se a inovação pela qual passa-se a investigar a relação entre a forma estética romanesca ela mesma e a estrutura do meio social no interior do qual ela se desenvolveu.

A hipótese desenvolvida por Lucien Goldmann a respeito disso enuncia que a forma romanesca é a transposição no plano literário da vida cotidiana na sociedade individualista de produção para o mercado e que existe uma homologia rigorosa entre a forma literária do romance, por um lado, e por outro lado a relação cotidiana dos homens com os bens em geral e com os outros naquela sociedade.(Ver Goldmann, Lucien: Pour une Sociologie du Roman, Paris, Gallimard, 1964, 238 págs.).

O esquema psicossociológico desta situação põe em relevo o advento do valor econômico de troca alterando as formas sociais pré-capitalistas em que a produção era conscientemente regida pelo consumo futuro, pelas qualidades concretas dos objetos, por seu valor de uso. Desta sorte, na medida em que se verifica na sociedade produtora para o mercado, a ligação entre as estruturas econômicas e as manifestações literárias passaram a ter lugar no exterior da consciência coletiva .

Vale dizer, na relação cotidiana dos homens com os bens em geral e com os outros em uma sociedade individualista de produção para o mercado observa-se a supressão no plano da consciência dos homens da relação aos valores de uso, a qual no dizer de Lucien Goldmann passa por uma redução ao implícito por efeito da mediação do próprio valor de troca.

Visando pôr em relevo que a ligação entre as estruturas econômicas e as manifestações literárias tem lugar no exterior da consciência coletiva, esse autor faz uma comparação do comportamento econômico dos indivíduos em uma sociedade produtora para o mercado, por um lado, e por outro lado nas outras formas de sociedade anteriores, dizendo-nos que nestas últimas a estrutura mental da mediação não é observável já que a economia é considerada natural. Quando um homem precisava de um vestimento ou ele o produzia ele-mesmo ou o demandava a um indivíduo capaz de produzi-lo, o qual, por sua vez, fosse em virtude de certas regras tradicionais, fosse por razões de autoridade ou de amizade ou ainda, fosse em contrapartida de certas prestações devia ou podia lhe fornecer tal vestimento.

Por contra, nas sociedades de mercado, quando se quer obter um vestimento importa conseguir o dinheiro necessário a sua compra. Por exemplo: o produtor de roupas é indiferente aos valores de uso dos objetos que ele produz. Aos seus olhos estes não passam de um mal necessário para obter aquilo que unicamente lhe interessa: um valor de troca suficiente para assegurar a rentabilidade de sua empresa. Daí se nota a mediação como substitutivo de toda a relação ao aspecto qualitativo dos objetos e dos seres, caracterizando o predomínio da relação aos valores de troca, quantitativos.

Nada obstante, é fato que tal mediação não suprime totalmente os valores de uso da consciência coletiva dos homens, permitindo-se Lucien Goldmann sublinhar que o caráter dos valores da vida econômica comporta um paralelo com o caráter dos valores perquiridos na forma romanesca, a saber: os valores de uso tomam um caráter implícito exatamente como o caráter dos valores autênticos no mundo do romance.

Para acentuar tratar-se de uma homologia rigorosa, Lucien Goldmann toma por um fato principal de sua análise psicossociológica que, como consumidor último oposto no ato mesmo da troca aos produtores, todo o indivíduo na sociedade produtora para o mercado se encontra em certos momentos da jornada em situação de vislumbrar os valores de uso qualitativos que ele não pode alcançar a não ser pela mediação dos valores de troca. Se tivermos em consideração que os criadores no domínio da cultura são os indivíduos que permanecem orientados essencialmente para os valores de uso poderemos alcançar a evidência de que a criação do romance como gênero literário não tem coisa alguma de surpreendente.

A respeito dessa situação são observados dois aspectos seguintes: (a) – se levarmos em conta que a vida econômica no plano consciente e manifesto se compõe de gente orientada exclusivamente para os valores de troca constataremos que os criadores de cultura, como indivíduos ligados à produção, por permanecerem orientados essencialmente para os valores de uso não somente se situam por isso à margem da sociedade, mas se tornam o que na sociologia de Goldmann se chama indivíduos problemáticos; (b) – nada obstante admite-se como ilusão romântica supor uma ruptura total entre a vida interior e a vida social, mesmo a respeito da situação desses indivíduos problemáticos já que, como criadores de cultura, não poderiam eles destacarem-se da degradação que sofre sua atividade criadora na sociedade produtora para o mercado, desde o momento em que essa atividade se manifesta exteriormente nos quadros, nos livros, no ensino, na composição musical, etc. as quais desta maneira passam a desfrutar de um certo prestígio, por via do qual adquirem um preço.

Quer dizer, a criação do romance, sua forma complexa ao extremo é a forma na qual vivem os homens os dias todos ao serem compelidos a buscar toda a qualidade, todo o valor de uso, por um modo inautêntico através da mediação da quantidade, do valor de troca. Complexidade esta acentuada pelo fato de que todo o esforço para se orientar diretamente aos valores de uso não engendra senão os indivíduos também como inautênticos, embora sob um modo diferente, que é o do indivíduo problemático. Para Goldmann essa análise psicossociológica esboçada prova que as duas estruturas – a da forma ou gênero romanesco e a da troca econômica competitiva – mostram-se tão rigorosamente homólogas que é possível falar de uma única e mesma estrutura que se manifestaria em dois planos diferentes.

Leia mais: Estruturas Econômicas e Forma Romanesca


sábado, 17 de maio de 2008

Tormenta política en campaña electoral

Artigo importante da agência de notícias IPS chama a atenção para o redemoinho que atingiu a campanha eleitoral nos EUA em face do discurso de Bush no estrangeiro sobre questões difíceis de política exterior e relações internacionais envolvendo o Oriente Médio. Afloram muitos posicionamentos que se cruzam e se chocam sobre vários aspectos transversalizando o campo cartesiano das curvas e gráficos partidários sobre as expectativas dos eleitores. Muitas nuances não só em relação a Hillary Clinton e a Obama pelo lado do Partido Democrata, mas pelo lado contrário ibidem. Agravadas pela evocação de episódios e figuras sinistras ligadas à conflagração dos anos trinta e quarenta e à memória do Holocausto. Seja como for, o excelente artigo de IPS datado hoje sábado 17 de Maio deixa ver que há muita água para correr debaixo da ponte antes que seja definido o próximo ou a próxima Presidente dos EUA.

Leia o artigo na íntegra:

Link http://www.ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=88444

quinta-feira, 15 de maio de 2008

ELEITOR FALTOSO E DIREITO DE DEFESA



A figura institucional do “eleitor faltoso” deve ser desfeita porque enseja um bloqueio do Direito constitucional fundamental de Defesa.

MANIFESTO PARA UMA CIBERAÇÃO
JUNTO AOS CONGRESSISTAS DO PODER LEGISLATIVO EM BRASÍLIA.

COPIE O TEXTO ABAIXO E
ENVIE E-MAIL AO SEU DEPUTADO OU SENADOR

Os eleitores contrários à obrigatoriedade do voto na Democracia e inconformados ante o abusivo constrangimento punitivo que os atinge em seu direito/prerrogativa de exercer seu voto nas eleições em liberdade de expressão se unem neste MANIFESTO para demandar AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA Lei nº.4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral) juntamente com as providências indispensáveis para suprimir de imediato toda a cominação de sanções a fim de assegurar ao eleitor colocado em suposta falta sua prerrogativa para impugnar tal dispositivo que o atinge.

Data, Nome (ID), E-mail.

A defesa do eleitor colocado como faltoso põe em causa a sanção sobre sua suposta “falta” atribuída em decorrência do seu não-comparecimento ao local de votação nas eleições. Na medida em que é desprovida de paralelo essa sanção é sui-generis e ademais da multa consiste em negar-lhe os serviços que o Estado presta ao indivíduo nacional.

Trata-se de uma desclassificação porque tal sanção impõe-se vinculada à indisponibilidade das instâncias de recursos.

Vale dizer, sem alternativa, ao eleitor colocado como faltoso só resta negar seu direito/prerrogativa para votar em liberdade de expressão ante a recorrência da obrigatoriedade, que reaparece forçando-o agora a declarar-se exatamente... faltoso!

Trata-se da obrigatoriedade para reconhecer, aceitar e cumprir a punição mediante a apresentação forçada de uma justificativa para seu não-atendimento ao comparecimento obrigatório previamente exigido.

Além de ser punido pela suspensão imediata de suas prerrogativas para os serviços que o Estado presta, o indivíduo colocado como eleitor faltoso sofre ainda um constrangimento adicional ao ser inapelavelmente forçado a declarar-se em falta, à imagem de um réu confesso, sob pena da inusitada proibição de votar que o priva da posse do seu voto.

Acontece que não está previsto nem é concedido ao indivíduo assim atingido por uma punição em dobro a mínima possibilidade de defesa pelo embargo da figura do eleitor faltoso que o atinge em seu direito/prerrogativa para votar em liberdade de expressão. Daí a sua desclassificação, pois desclassificado é todo aquele privado do seu direito de defesa.

Desta forma, considerando que em hipótese alguma pudera ser estabelecido em norma a indevida e abusiva cominação das sanções tornando o eleitor previamente proibido de votar e contra isto impossibilitado para oferecer recurso, caberia ao Ministério Público em Ação de Inconstitucionalidade da Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, acolher a causa do atingido pela figura do eleitor faltoso, suscitando a competente instância de recursos e criando a legítima alternativa jurídica indispensável para impugnar os fracassados e obsoletos dispositivos institucionais draconianos que aí estão a ofender grave e violentamente o "direito seu", em contrapelo acintoso da Constituição, que garante ao indivíduo o direito de defesa.

(a) - Como se sabe, o voto na República é obrigatório há tempos, mas correspondia a uma estrutura social conhecida no Ocidente como “clientela política” ou “clientelismo”, na qual, demais de reconhecer a posse do voto, se premiava o eleitor que votava ao invés de estabelecer punição expressa ao que não comparecia. Os radicais dispositivos punitivos sobre o eleitor que aí estão são estranhos à tradição do voto clientelista, têm origem excepcional, adentram a segunda metade do passado século vinte e constituem inovação sem correspondência com a realidade social.

(a1) – Da mesma maneira é falacioso o argumento que vincula a adoção do voto facultativo a um padrão mínimo de igualdade no acesso à informação ou igualdade socioeconômica para todos, não só porque afirma a imagem do desclassificado para um sujeito suposto privado de acesso aos valores sócio-econômicos desejáveis e escassos por definição, mas porque suprime a questão da liberdade e da motivação propriamente política no ato eleitoral e do ato eleitoral na Democracia, como componentes fundamentais para a formação da cidadania.

(b) - Ademais é incontestável que o pacto político da República não se acomoda e repele qualquer fundação de fato ou de Direito na coação direta e expressa do eleitor por princípio, mais ainda se essa coação em sua desmesura vai até proibir-lhe votar nas eleições.

(c) - O argumento de que a votação massiva produz legitimidade é contestável, já que a qualidade universal do sufrágio não resulta simplesmente do comparecimento massivo do grande número em razão da autoridade burocrática, sem motivação política real e em detrimento da prática da liberdade política coletiva, cujo exercício em ato é requerido no regime do voto voluntário ou facultativo, o qual, este sim inclui a motivação política imprescindível à obtenção da universalidade do sufrágio como diretriz de política pública.

(c.1) - A obrigatoriedade do voto em um sistema institucional democrático, vista no paradoxo que a constitui, permanece uma imposição punitiva que por sua vez é negação em primeiro grau, revelando-se uma penalização que nega em fato o reconhecimento da capacidade política do eleitor em produzir tendência política pública como escala de valores, critérios e estilo nas relações com as instâncias constituídas. Ao invés de produzir legitimidade induz a um círculo vicioso descaracterizando qualquer tendência política pública pela ampla disparidade das escolhas a que é levado o eleitor coagido em relação a candidatos, chapas, programas, posturas sem par que elege.

Leia mais em

Ciberação em Defesa do Eleitor e o Direito Seu / Cyberaction in Defense of the Vote

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domingo, 11 de maio de 2008

LITERATURA, SOCIOLOGIA E POLÍTICA: sobre a imagem da Odisséia.

Dentre os relatos épicos da antiguidade clássica admite-se na leitura da Odisséia um interesse diferenciado mais positivo do que a Ilíada. Se esta retrata a ambiência de conquista, a epopéia de Odisseo acentua a aspiração aos valores.

O caráter humano é afirmado constantemente na medida em que, seguindo as orientações de Atenéa e das divindades que o protegem da ira de Poseidon – quem não permitia a libertação de Odisseo da Ilha de Calipso por ter o herói vencido o gigante Polifemo – o herói toma providências, exerce astúcias para prover sua condição humana diante dos obstáculos.

O relato deixa ver que, direcionada para vencer os obstáculos, a liberdade humana é exercida no esforço de realização do herói que aspira reingressar em seus domínios e reencontrar a mulher que lá o aguarda – neste primeiro plano a Odisséia é composta da travessia de Odisseo em meio às tormentas para alcançar e reassumir Ítaca e ali reencontrar Penélope.

Dentre os outros aspectos compostos juntamente com a compreensão do caráter humano, a imagem da Odisséia como fonte para os modelos de civilização nas sociedades históricas perpetuou-se devido à figuração da idéia de sociedade política afirmada na convicção que outorgava o maior valor à descendência dos heróis e tornava seu domínio inacessível a terceiros.

Todo o relato é penetrado por essa convicção acentuada desde as seqüências iniciais com a atuação de Telêmaco, filho de Odisseo, que contestava o costume tribal desagregador permitindo aos sobreviventes apossarem-se dos domínios deixados pelo herói desaparecido e desposarem sua mulher.

A Odisséia dá forma e figura à idéia de que a unidade política conseguida em A Ilíada em torno dos heróis devia ser consolidada mediante a perpetuação da presença desses heróis e para isso o relato afirma o respeito à descendência e domínios dos heróis, põe em questão e condena os costumes alheios ou contrários a essa consciência moral pela primeira vez manifestada em obra de texto na história. Aliás, a comunidade moral é afirmada em perspectiva no papel de Telêmaco buscando apoio junto aos outros heróis retornados.

Seja como for é inegável que o valor da literatura para a civilização tem na Odisséia sua referência máxima, inclusive a idéia de que o texto da escrita inteligente tem serventia indispensável para esclarecer sobre procedimentos e regras da vida em sociedade e crítica dos costumes e crenças, confirmando enfim que, nas sociedades históricas, o conhecimento não é separável da mitologia.

sábado, 10 de maio de 2008

Negritude e Iluminismo: Leopold Sédar Senghor


O escritor Léopold Sédar Senghor cujo centenário de nascimento foi celebrado no ano de 2006 em escala internacional foi inspirador do movimento da negritude a que se dedicou exaltar juntamente com os valores do humanismo. Era um herdeiro africano do Iluminismo convencido de que a civilização do universal era tanto um projeto político quanto cultural.

Léopold Sédar Senghor sustentou que a Francofonia é um modo de pensar e de ação, certa maneira de formular os problemas e buscar-lhes a solução. Lembrando a imagem da Diáspora, ensinava que a Francofonia é uma comunidade pensante em torno da terra, uma "noosphère”. Para além da língua, a Francofonia é o espírito da civilização francesa a que chamou “la Francité”.

Senghor recebeu em vida muitos prêmios literários, além dos que obteve como político e estadista. Esteve no Brasil em 1964, onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UFBa (Universidade Federal da Bahia). É considerado um dos fundadores da Francofonia moderna .

Dentre suas obras, além da constante busca por uma via africana para o socialismo, encontramos em Ethiopiques (poésie, Ed. du Seuil, Paris, 1956) um titulo particularmente interessante e revelador da visão de negritude afirmada por Léopold Senghor.

Acima de qualquer particularidade regional, de regime ou de país, sabemos que o gênio helênico da antiguidade clássica imortalizou na Odisséia a presença histórica muito antiga dos povos negros na origem do Ocidente através dos Etíopes.

Logo no início do relato épico, os Etíopes estão contemplados entre os preferidos dos Deuses. Visitados pelo próprio irmão de Zeus, Poseidon que os menciona expressamente. Aliás, foi essa ausência de Poseidon afastando-se do Olimpo para estar com os Etíopes que deu ensejo à intervenção de Atenéa promovendo a libertação de Odisseo e levando a epopéia até o fim. Portanto, a presença dos Etíopes na poética do gênio ocidental não é pouca coisa, não é simples menção “en passant”, mas compõe o destino épico.

A relação do negro com a cultura existe primordialmente através do texto histórico e da escrita inteligente. Portanto, nos resta esperar que exemplos como Martin Luther King, Jr. e Leopold Sedar Senghor sirvam para valorizar os projetos engajados na elevação intelectual ultrapassando toda a imagem populista que despreza a leitura.

La Francophonie est "un mode de pensée et d'action : une certaine manière de poser les problèmes et d'en chercher les solutions. Encore une fois, c'est une communauté spirituelle : une "noosphère" autour de la terre. Bref, la Francophonie, c'est, par-delà la langue, la civilisation française; plus précisément, l'esprit de cette civilisation, c'est-à-dire la Culture française, que j'appellerai "la francité".

Léopold-Sédar Senghor (09.10.1906 - 20.12.2001)

Fonte: Leituras do Século XX

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Há um filme intitulado Leopold Sedar Senghor no website da Cinefrance.

De Béatrice Soulé. PB. Duração 48’.

(França, 1996).

Leopold Sédar Senghor, homem político, farol da África, decidiu retirar-se em plena notorioridade. Béatrice Soulé quis magnificar esse cantor da negritude e da francofonia e confia à um jovem rapper a letra de Senghor, em que o natural e a vitalidade iluminam um passeio de imagens nos lugares da memória africana. Esse filme tem a forma de um longo poema ritmado pelas evocações sonoras.

http://www.cinefrance.com.br/cinemateca/documentarios/titulos/?filme=672

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NOTA COMPLEMENTAR:

"noosphère” - Terme proposé par Teilhard de Chardin en 1925. Formé du grec nòos : intelligence, esprit, et de sphère.

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sexta-feira, 2 de maio de 2008

Cumbres y Conferencias Iberoamericanas na Web da O.E.I.

Mensagens publicads no website da Organización de Estados Iberoamericanos para la educación, la ciencia y la cultura – O.E.I.

Situación y Desafíos de la Juventud en Iberoamérica - CEPAL

Iberoamérica vive un momento auspicioso. Señales elocuentes son cinco años de crecimiento sostenido en la mayor parte de los países de la región, mejoramiento en buena parte de los términos de intercambio, una fuerte reducción de la pobreza y la indigencia, la mayor presencia de prioridades sociales en las agendas públicas, la reducción del desempleo y la continuidad de regímenes democráticos en todos sus países. Todo esto, sin embargo, ante una perspectiva global de corto y mediano plazo que se ve tensionada por una eventual recesión en la economía estadounidense, mayor incertidumbre en los mercados financieros, y cambios climáticos que ponen un signo de interrogación sobre la calidad de vida de las generaciones venideras.

En este escenario la juventud iberoamericana también vive perspectivas auspiciosas y desafíos problemáticos. En comparación con generaciones mayores, los y las jóvenes cuentan hoy con mayor educación, están más familiarizados con las nuevas tecnologías de información y comunicación, han internalizado con mayor vigor los valores de la autonomía y los derechos humanos, son protagonistas del cambio cultural en tiempos de globalización, y se adaptan más fácilmente a cambios en la organización del trabajo y del ocio. Todo esto resulta promisorio, especialmente en un contexto económico de descenso reciente del desempleo y la pobreza que también beneficia a la juventud, y de transición demográfica que los bonifica con una relación más positiva en oferta y demanda de empleo y educación.

Leia mais http://www.oei.es/noticias/spip.php?article2371

***

El Salvador tendrá el honor de ser la sede de la XVIII Cumbre Iberoamericana de Jefes de Estado y de Gobierno bajo el tema Juventud y Desarrollo. Es por ello que las diferentes agencias y programas de Naciones Unidas han considerado esta ocasión, por demás propicia, para hacer este aporte a fi n de apoyar los esfuerzos que realizan los diferentes países iberoamericanos para responder a las necesidades de un grupo poblacional tan importante.

Situación y Desafíos de la Juventud en Iberoamérica – CEPAL

El Equipo de País de las Naciones Unidas en El Salvador presenta este documento como un insumo para la discusión sobre la situación de la juventud en Iberoamérica.

Apoyo de la Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL)

http://www.oei.es/pdfs/ica.pdf

***

La XVIII Cumbre Iberoamericana se va a celebrar entre los días 29 al 31 de octubre de 2008 en San Salvador. Previamente se van a celebrar Conferencias y Foros sectoriales entre los cuales se encuentran la XVIII Conferencia Iberoamericana de Educación, a celebrar el próximo 19 de mayo, y la XI Conferencia Iberoamericana de Cultura que se va a celebrar el 23 de mayo, en las cuales la OEI tendrá un imporante papel.

Desde hace unas semanas se encuentra ya disponible la página oficial de la Cumbre: www.iberoelsalvador.org.sv

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Visite na Web da O.E.I. a página Cumbres y Conferencias Iberoamericanas

http://www.oei.es/cumbres.htm

Secciones

XVII Cumbre Iberoamericana (Chile)

Cumbres Iberoamericanas de Jefes de Estado y de Gobierno

Conferencias Iberoamericanas de Educación

Conferencias Iberoamericanas de Cultura

Conferencias Científicas

Programas de Cooperación Iberoamericana

Cooperación en el Marco de la Conferencia Iberoamericana

Enlaces de interés

***

Informações selecionadas e reproduzidas do website da O.E.I. por Jacob (J.) Lumier

Link: http://www.oei.es/cumbres.htm

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